Um herói esquecido

 Um herói esquecido

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Alex Medeiros
@alexmedeiros1959

Ontem, quando fui cascaviar a internet em busca de sites suíços para localizar o jornal que espinafrou o judiciário brasileiro, deparei-me com duas dezenas de endereços digitais. Na maioria havia notícias dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, algumas delas destacando o trabalho e os esforços do pessoal da Cruz Vermelha pelo fim de ambos. A Suíça é o berço da entidade, assim como é também do Nobel da Paz, uma nação planejadamente pacífica.

Para quem não sabe, principalmente aqueles que mesmo gostando de dinheiro refutam banqueiros, empresários e milionários, a Cruz Vermelha só existe por causa de um dono de banco. A história remete a meados do século XIX, quando em 1859 um jovem banqueiro de Genebra, após sensibilizar-se com a sangrenta Batalha de Solferino na guerra de independência da Itália, iniciou um movimento para socorrer os soldados feridos e não deixá-los desamparados.

Sua iniciativa resultou na criação de uma organização internacional permanente que se reuniria anualmente para delegar ações de auxílio às vítimas de guerras e operar em qualquer parte na defesa dos direitos humanos.

Em 1864, delegados de diversas nações reuniram-se numa convenção em Genebra que estabeleceu também a criação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, um sonho do jovem banqueiro que não mediu recursos financeiros.

Seu nome era Jean-Henri Dunant, detentor de negócios em várias partes da Europa e que jamais se negou a mexer na sua fortuna para ver a aquela instituição de solidariedade operar em favor dos desvalidos no mundo inteiro.

Só que isto teve um alto custo para os negócios de Dunant, que anos após o nascimento da Cruz Vermelha, enquanto a entidade avançava em sua missão humanitária, os negócios das empresas entravam em perigosa crise financeira.

Ele havia se empenhado tanto na sua cruzada de salvar feridos e lutar por direitos humanos, que não mediu os custos das suas contas bancárias empresarial e pessoal. E viu seus negócios andando para trás, deficitários.

Em 1867, sua falência foi oficialmente declarada e ele deixou Genebra para morar num singelo apartamento na periferia de Paris. Mas a coisa ainda iria piorar quando ele deixou de ser visto participando das convenções anuais.

Não demorou a ser ignorado, sumiu durante anos e alguns jornais europeus chegaram a estampar sua morte em notícias de páginas internas. Ele foi esquecido pelo mundo durante quase trinta anos, até ser resgatado em 1895.

E isso graças a um jornalista da própria Suíça, que um dia recebeu uma pauta para uma reportagem em que ouviria alguns idosos. E o resgate foi puramente um lance de sorte, involuntário, durante os depoimentos ouvidos num asilo.

A casa de repouso se localizava numa aldeia dos Alpes, chamada Heiden, e quando o repórter terminou de falar com um senhor, perguntou-lhe o nome; ele disse chamar-se Henri Dunan. Então a matéria reverberou por toda a Europa.

Quase a unanimidade das nações se articulou num mutirão para ajudar e fazer honrarias ao ancião. A imperatriz da Rússia concedeu uma pensão especial e vitalícia. O parlamento suíço votou um prêmio para ele e inspirou a concessão do primeiro Nobel da Paz, em 1901, para quem deu uma fortuna em prol dela.

Aquela repercussão só ocorreu rapidamente porque ao descobrir o ex-banqueiro indigente, o repórter iniciou sua reportagem dizendo “O fundador da Cruz Vermelha está vivo e na miséria”. A entidade mundial fez 160 anos.

Publicado na Tribuna do Norte em 17.01.24

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