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OPINIÃO: “KAMALA REVOLUCIONA CONCEITOS DO CAPITALISMO”
Ney Lopes
A grande surpresa política nos Estados Unidos não foi a retirada de Joe Biden da campanha, mas a revelação de Kamala Harris. Já é uma candidata presidencial de credibilidade e injeta nova energia na campanha democrata. Fala com a alma aberta para acolher a todos, ao contrário de Trump portador de um implacável sinete, que discrimina e separa as pessoas.
Novo caminho do capitalismo
Kamala Harris promete “novo caminho a seguir” no capitalismo americano, com ênfase às reivindicações sociais dos mais necessitados, sem discriminar pessoas como de esquerda ou direita. Ela se apresenta como avalista da classe média, maneira de afastar o país do estilo abrasivo de política adotado pelo candidato republicano Donald Trump.
Origem
Harris contou a história de ter sido criada por uma mãe imigrante da Índia, que economizou por décadas antes de poder comprar uma casa. Uma mulher negra. Obstáculos foram colocados em seu caminho a cada passo. Ela teve que lutar para quebrar esses tetos de vidro. Citando seu trabalho como promotora que iniciou casos com as cinco palavras “Kamala Harris, para o povo”, ela prometeu representar um país diverso, cheio de pessoas perseguindo seus próprios sonhos. Ela contou histórias de sua criação e relembrou que a sua mãe a ensinou “nunca reclamar de injustiça, mas fazer algo a respeito” e a “nunca fazer nada pela metade”
Pensar o futuro
O pensamento político da candidata é próximo das teses da economista Mariana Mazzucato, professora da University College London. Mazzucato considera que a crise desencadeada pela pandemia de covid-19 é uma oportunidade de “fazer um capitalismo diferente”, no sentido de aproximação com os mais carentes. Ela fala há anos sobre a importância dos investimentos do Estado nos processos de inovação.
A avaliação é que a maneira como é visto o papel do Estado no último meio século foi inadequada. Isso justifica repensar para que servem os governos. Em vez de corrigir as falhas de mercado quando surgirem, elas devem avançar ativamente para moldar e criar mercados para enfrentar os desafios prementes da sociedade. Para o Papa Francisco, Mazzucato, “ajuda a pensar no futuro”,
Harris garantiu que “a América, não a China, vencerá a competição pelo século XXI” e prometeu “permanecer firme com a Ucrânia e aliados da OTAN. Falou longamente sobre o conflito em Gaza, que dividiu os democratas. Disse que, embora ela “sempre garantisse que Israel tivesse a capacidade de se defender”, a escala do sofrimento humano desde que o aliado dos EUA havia iniciado a guerra em Gaza era “de partir o coração”.
Fortalecer classe média
Harris deseja fortalecer a classe média, uma “meta definidora” para sua presidência, como parte da construção do que ela chamou de “economia de oportunidade”. “Isso é pessoal para mim. A classe média é de onde eu venho”, afirmou. Uma forma será cortar impostos para famílias de classe média, acabar com a escassez de moradias e proteger pensões e assistência médica para idosos.
Deu uma alfinetada em Trump, argumentando: “Ele não luta realmente pela classe média. Em vez disso, ele luta por si mesmo e por seus amigos bilionários. E ele dará a eles outra rodada de isenções fiscais, que adicionarão US$ 5 trilhões à dívida nacional.
Enquanto ela discursava na Convenção Democrata, uma multidão de apoiadores aplaudiu e agitou bandeiras americanas. Mais de 100.000 balões vermelhos, brancos e azuis caíram, no final de seu discurso.
A busca do voto
Em resumo, o discurso de Kamala não foi uma ladainha política, mas sim mensagem objetiva para conectar-se com os impulsos amplos do eleitorado, com repetidas declarações de grandeza do seu país e de mente dura, que mantém os mesmos valores da maioria dos americanos. Ela atingiu o seu objetivo na Convenção Democrata. Agora é buscar o voto! Mas, ainda faltam 10 semanas. Esta é uma disputa presidencial muito acirrada, e ainda está longe de acabar.